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Além do amanhã, o futuro imediato: a inadiável necessidade que exige um novo contrato social agora
By
João Ferreira

Vivemos numa era de transformações radicais, onde a tecnologia, a automação e a digitalização estão a redefinir não apenas a economia, mas também a estrutura social e a própria perceção de valor humano.

Yuval Noah Harari, um dos pensadores contemporâneos mais provocadores, coloca uma questão desconfortável: o que faremos com os “inúteis” do futuro?
A ideia de “pessoas inúteis” é, evidentemente, perturbadora. No entanto, Harari não se refere à inutilidade intrínseca dos indivíduos, mas à forma como a sociedade os perceciona e integra. Num mundo onde a inteligência artificial e os algoritmos tomam decisões mais rápidas e eficientes do que os humanos, a capacidade de contribuição laboral da maioria das pessoas pode tornar-se obsoleta. Assim, surge a questão: se o trabalho já não é o eixo central da vida humana, o que dará significado à existência?
Harari sugere que o vazio existencial será preenchido por drogas e jogos eletrónicos, uma espécie de anestesia social para manter a população ocupada e submissa. O Japão, segundo ele, está 20 anos à frente nesse fenómeno, onde as relações humanas estão a ser substituídas por interações virtuais e o isolamento social é cada vez mais comum. Se olharmos para os números do isolamento social, do aumento da depressão e da ansiedade, percebemos que esta transformação já está em marcha, silenciosa, mas irreversível.
No entanto, a grande questão que poucos estão a ver é que esta não é apenas uma preocupação futurista. Já estamos a viver esse cenário. A geração mais jovem cresce num mundo onde os ecrãs substituem o contacto humano, os algoritmos moldam as suas preferências e a hiperconectividade digital leva à desconexão real. Cada vez mais, pessoas encontram significado em realidades simuladas, em vez de construí-lo no mundo tangível. O entretenimento massivo tornou-se uma das maiores indústrias do mundo, precisamente porque preenche um vazio emocional e existencial, criando a ilusão de propósito onde este já não existe.
O problema fundamental é que, ao contrário das revoluções industriais anteriores, esta mudança não vem acompanhada de uma nova promessa de empoderamento ou crescimento. No passado, quando as máquinas substituíram a força braçal, os trabalhadores foram requalificados para novas funções. Mas agora, as inteligências artificiais não apenas substituem o trabalho humano, mas também a criatividade, o pensamento crítico e até mesmo o papel social das pessoas. Como podemos encontrar um novo paradigma de existência quando as profissões criativas, outrora vistas como última fronteira da humanidade, também começam a ser replicadas por máquinas?
Outro ponto fundamental – também mencionado por Harari – e que muitas vezes passa despercebido é o aborrecimento. O ser humano moderno, privado de um papel social claro e de desafios concretos, enfrenta um vazio profundo que a sociedade parece incapaz de colmatar. O aborrecimento já não é apenas aquele momento ocasional de tédio, mas uma sensação persistente de falta de propósito. Num mundo onde o entretenimento está à distância de um clique, onde a estimulação constante impede a introspeção, desaprendemos a arte de estar sós com os nossos pensamentos. E quando o silêncio se torna insuportável, recorremos a distrações incessantes – redes sociais, videojogos, substâncias químicas – numa tentativa vã de preencher o vazio existencial que nos assombra.
Se não discutirmos agora o que significa ser humano numa sociedade onde a produtividade já não é um requisito, corremos o risco de acordar num mundo onde a existência é tida como irrelevante. O perigo não é apenas económico, mas existencial. O ser humano sempre precisou de um propósito para viver. Sem trabalho, sem grandes ideologias unificadoras e sem uma comunidade real onde se possa sentir integrado, o que resta?
A solução não está em evitar a tecnologia, mas em redefinir o valor da vida para além da contribuição económica. Precisamos urgentemente de um novo contrato social que priorize a realização humana, a criatividade e o bem-estar psicológico sobre o simples consumo e entretenimento alienante. Precisamos de uma educação que não ensine apenas competências técnicas, mas que ensine a pensar, a questionar, a encontrar sentido para além das métricas de produtividade.
O “dia depois de amanhã” não é um horizonte distante. Já começou. A pergunta é: estamos prontos para encarar a realidade ou preferimos “mergulhar de cabeça” na distração? Porque, meus caros, se não escolhermos um caminho agora, muito em breve já não teremos escolha.

Para o leitor, com estima:
“Escritos Secretos: Memória, Injustiça
e Redenção no Cinema”, de Jim Sheridan
Baseado no romance de Sebastian Barry, “Escritos Secretos” (2016) é um drama intenso que transporta o espetador entre o passado e o presente para revelar uma história de amor, opressão e resistência.
Com uma direção sensível de Jim Sheridan e atuações marcantes, emociona ao refletir sobre memória e identidade… No entanto, a narrativa, por vezes, perde-se no melodrama, diluindo parte de sua força crítica. Ainda assim, o filme destaca-se como uma obra envolvente que resgata vozes silenciadas e reforça o cinema como um espaço de questionamento e reflexão.

(Explorando o impacto do passado e a luta pela verdade, “Escritos Secretos” reafirma o poder do cinema em dar voz àqueles que a história tentou calar).

Originally published by Diário de Aveiro. 

A urgência, para ontem, de um novo contrato social
By João Ferreira

Vivemos numa era de transformações radicais, onde a tecnologia, a automação e a digitalização estão a redefinir, não apenas a economia, mas também a estrutura social e a própria perceção de valor humano. Harari coloca uma questão desconfortável: o que faremos com os “inúteis” do futuro?

A ideia de “pessoas inúteis” é, evidentemente, perturbadora. No entanto, Harari não se refere à inutilidae intrínseca dos indivíduos, mas à forma como a sociedade os perceciona e integra. Numa realidade atual onde a inteligência artificial e os algoritmos tomam decisões mais rápidas e eficientes do que os humanos, a capacidade de contribuição laboral da maioria das pessoas pode tornar-se obsoleta. Assim, surge a questão: se o trabalho já não é o eixo central da vida humana, o que dará significado à existência?

Harari sugere que o vazio existencial será preenchido por drogas e jogos eletrónicos, uma espécie de anestesia social para manter a população ocupada e submissa. O Japão, segundo ele, está 20 anos à frente nesse fenómeno, onde as relações humanas estão a ser substituídas por interações virtuais e o isolamento social é cada vez mais comum.

No entanto, a grande questão que poucos estão a ver é que esta não é apenas uma preocupação futurista. Já estamos a viver este cenário. A geração mais jovem cresce num mundo onde os ecrãs substituem o contacto humano, os algoritmos moldam as suas preferências e a hiperconectividade digital leva à desconexão real. Cada vez mais pessoas encontram significado em realidades si- muladas, em vez de construí-lo no mundo tangível.

O problema fundamental é que, ao contrário das revoluções industriais anteriores, esta mudança não vem acompanhada de uma nova promessa de empoderamento ou crescimento. No passado, quando as máquinas substituíram a força dos braços, os trabalhadores foram requalificados para novas funções. Agora, as inteligências artificiais não apenas substituem o trabalho humano, mas também a criatividade, o pensamento crítico e até mesmo o papel social das pessoas.

Se não discutirmos agora o que significa ser humano numa sociedade onde a produtividade já não é um requisito, corremos o risco de acordar num mundo onde a existência é tida como irrelevante. A solução não está em evitar a tecnologia, mas em redefinir o valor da vida para além da contribuição económica. Precisamos urgentemente de um novo contrato social que priorize a realização humana, a criatividade e o bem-estar psicológico sobre o simples consumo e entretenimento alienante.

Para o leitor, com estima

A Ordem do Tempo
de Carlo Rovelli
Nesta obra extremamente cativante, Carlo Rovelli desafia a nossa perceção do tempo, desmontando a ilusão de uma realidade fixa e linear. Com uma escrita poética e muito acessível, conduz-nos pelos meandros da física contemporânea, entrelaçando conceitos complexos com reflexões filosóficas densas e profundas. A clareza com que Rovelli explica a natureza elusiva do tempo é notável, tornando abstrato o que julgávamos concreto. No entanto, por vezes, a abstração pode afastar leitores menos familiarizados com os fundamentos da física teórica… Ainda assim, a obra brilha ao revelar a beleza do pensamento científico e a sua capacidade de transformar a nossa compreensão do mundo. (Desafiando crenças e expandindo horizontes, é um convite irresistível à contemplação do universo e da nossa própria existência.)

Originally published by Campeão das Províncias. 

ABURRIMIENTO

By Sergio Sanz Navarro

Eres la indigestión de mis sueños no cumplidos, la nostalgia de cuando fundido en Dios deseo y safisfacción eran Uno.

Eres una angustia sorda de impotencia y frustración, el azote de mis días y mis noches en vela cuando miro con complicidad y anhelo la plenitud de la eternidad.

Eres una corriente gris de llanto que riega los infértiles campos de mis tercos intentos de llegar al éxtasis… allá donde crecer las negras flores con las que me atraganto cuando por mi boca salen y exhalan su repugnante olor con el que me ahogo.

Eres la disconformidad constante, protestando adentro de mí con un recuerdo de gloria.

Eres una puta y amarga queja que sangra en mi corazón y me consume por dentro que solo se emborracha con el licor del amor y la diversión.

Eres el odio de la soledad que no es ausencia de personas, sino no estar como y con los que te gustaría estar, pues soledad e insatisfacción son lo mismo.

Eres el mustio espanto del atronador silencio de una cama vacía disfrazado de inofensivo ruego y, sin embargo, eres la extensa súplica cuando la vida me seduce y me esquiva.

Eres mi negación al encuentro con todo aquello que no me llena o atrae. Eres la vida pasando por una pantalla.

Eres un poema falso que se repite, el anhelo de beber en una abstinencia autobligada, cambiaría todo lo que escribo por cumplir todo lo que deseo, lo echaría al fuego si con ello prendiera la llama que fuera luz en este apagamiento que pago a «a veces» que parecen «siempres», en esta oscuridad en la que me tambaleo como un ciego que no sabe a dónde va…

Eres un potro enfurecido de rabia y miel que vive en mí y que soy, cuando, aunque miles de personas pudieran leerme y comprenderme, me siento un pequeño pulmón incapaz de respirar el universo entero.

Eres un chico joven tumbado en una cama, oliendo las flatulencias de esta prosa, bella maloliente del nardo y del espino…

Eres el eco de mi inquietud, un pesado pesar… un poeta de alcantarilla que adora en la noche onírica las féminas que de él huyen…

Eres el estúpido e infantil dramatismo de un flojo revistiendo de sublime su desgana.

Eres el reclamo que estalla y que grito a la incorpórea Señora del Universo, mis caprichos humanos luchando contra los caprichos divinos… eres la furia que no sabe contra qué pelearse, a qué golpear…

Eres el escupitajo que te tragas cuando me crees todo esto, eres el amor verdadero mal escrito, la duda del sabio que nada sabe, eres la envidia que tengo por aquello que me gustaría vivir, eres un «poco» que duele «mucho», la escasez de una fuente reticente a dar agua, eres la torpeza de un galán que se siente inepto, un mensaje sin contestar, una cita muriéndose en la imaginación, el contraplano de una mirada que me fascina y no alcanzo a ver, una prosa larga que se me hace corta cuando de corto que se me hace el disfrute larga se me hace la espera, eres la culpa cuando me miras fijamente y no sé qué decirte, eres todo lo que no es en mí y que extrañamente vive cuando se siente morir por no ser vivido.

Eres la calvicie que no puede disimularse, eres un andar hombros abajo, eres la chepa de un hombre que renquea, la burla de una mujer fatal, el fracaso del amor más bonito, eres la frigidez existencial con orgasmos entrecortados… Eres el cansancio de la búsqueda y todo lo que no funciona… eres la felicidad asustada… la mierda de un escrito que no acaba bien.

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